Doçura no Teu Olhar

Capítulo 1

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Lisboa, 10 de Fevereiro de 2014 (Segunda-feira)


Sara Perdigão, encontra-se na festa da MOVE, feliz com o sucesso da noite e com a forma como todos receberam, mais uma vez, as novidades em jóias e acessórios de moda, que a marca lhes deu a conhecer esta noite.

A MOVE é a empresa que fundou com as suas amigas Rita Saraiva, Beatriz Lopes e Cristina Costa, em Outubro de dois mil e dez, mal terminou uma parte dos seus estudos.

A ideia da empresa de moda veio de Rita, que na época estava a estudar e a viver em Londres com a sua família, já que o seu pai é um conhecido diplomata, o que a levou a viajar pela Europa durante doze anos.

Beatriz, sua amiga desde os bancos da escola, seguiu os seus estudos na área da moda e, quando Rita teve a ideia de formar a empresa, lembrou-se de imediato de se unir à amiga, aventurando-se juntas na vida empresarial e da moda.

Sara, acabada de se formar em Contabilidade e Administração, ofereceu-se para as ajudar e, quando lhe foi proposto que fosse, também ela, sócia, aceitou e dedicou-se de corpo e alma à empresa.

Também a amiga Cristina se juntou a elas e, embora sendo psicóloga, tem sido uma importante peça deste conjunto.

Assim, as quatro amigas tornaram-se sócias e, juntas, fizeram da MOVE um sucesso e uma marca reconhecida em todo o mundo da moda.

Ao longo de todo este tempo, o nome de Rita, como criadora dos acessórios, foi um segredo bem guardado da MOVE. Ela nunca quis que conhecessem a sua identidade pois, devido a um rapto a que foi sujeita quando tinha apenas quatorze anos, por ser filha de um diplomata, a partir desse momento, tudo tem feito para se manter no anonimato. No entanto, tendo regressado a Portugal em Março do ano passado, a vida dela sofreu modificações drásticas. Como Rita costuma dizer, foi apanhada pelo furacão João, com quem acabou por casar em Dezembro, depois de muitas complicações que ambos, com todo o amor que sentem um

pelo outro, conseguiram resolver, o que os traz a esta noite.

Com a decisão tomada por todos, à excepção de Rita, de quem foi guardado segredo, resolveram que hoje seria revelada a identidade da criadora da MOVE e, com a colaboração de todos, foi o que aconteceu. João, em conversa com ela, Beatriz e Cristina, pediu-lhes que esta noite fosse organizado um desfile, durante o qual, Rita, a festejar o seu vigésimo quinto aniversário, seria anunciada ao mundo. E assim foi.

Sara permanece junto ao bar, a observar como todos se divertem e sente-se extremamente feliz, pela surpresa que prepararam a Rita que, neste momento, dança com João na pista, muito agarradinhos e percebe que a amiga está feliz com a surpresa. Chegaram a temer a reacção que ela pudesse ter, mas, sem dúvida, fizeram o que estava certo. É bom ver Rita tão feliz, nos braços do homem que ama e a ser felicitada pelo seu enorme talento.

- Ainda não tive oportunidade de te dar os parabéns pela noite de sucesso. Excelente trabalho! – felicita-a Miguel, que se aproximou sem que ela se tenha apercebido.

- Obrigada. Foi um trabalho intenso, mas está a ser muito compensador. A Rita tem a felicidade estampada no rosto e eu estou muito feliz por ela.

- E tu, estás feliz? – pergunta Miguel, aproximando-se dela e quase sussurrando a pergunta ao seu ouvido.

Sara estremece quando sente o calor das palavras tocar-lhe na pele.

Miguel Andrade é amigo e sócio de João Santos, na empresa de tecnologias de informação que têm em conjunto com Filipe Silva, o outro amigo e sócio, desde que terminaram a universidade.

João é amigo de Sara, Rita, Beatriz e Cristina desde a altura em que ela e as três amigas, na época com onze anos, foram para a escola onde ele estudava e, desde aí, mantiveram esta amizade.

Por causa de João, conhece Miguel há anos e, entre ela e Miguel, sempre houve uma certa química que ela sempre se recusou a reconhecer pois, pretende preservar a amizade com João, acima de tudo. Principalmente agora que João e Rita estão casados e que os amigos de ambos se encontrarão com mais frequência. Se ceder às tentações que Miguel lhe propõe há anos e as coisas não correrem bem, poderão originar problemas desagradáveis entre os amigos e ela não quer isso, por esse motivo, tem-se mantido afastada dele. Só de imaginar como seria, ter de se reunir com Miguel, tendo em conta a relação que ambos têm com Rita e João, depois de acontecer algo com ele que não desse certo. Não, não quer imaginar. Seria constrangedor para ela, para Miguel e para todos os amigos à volta e ela não quer, de todo, estragar o ambiente saudável que se vive neste grupo que reuniu durante a sua vida.

Por esse motivo, tem ignorado todas as investidas de Miguel, que nunca cessaram, mesmo quando um deles se encontrava num compromisso com outra pessoa.

E esta noite, mais uma vez, aqui está ele ao seu lado, com a sua voz quente, a aquecer-lhe a pele e perscrutando-a, como é seu hábito.

- Ainda não respondeste à minha pergunta – insiste Miguel, perante o silêncio em que Sara se mantém.

- Mas que raio de pergunta é essa?

- Uma pergunta simples. Só quero saber se tu estás feliz. 

- Claro que estou feliz. Como tu próprio disseste, esta noite está a ser um sucesso.

- Não é a esse aspecto que me refiro e sabes bem disso.

- Miguel pára. Vamos parar por aqui. Sei o que tu queres e eu não me quero zangar contigo esta noite.

- Não tenho qualquer intenção de me zangar contigo ou de fazer com que te zangues comigo. Apenas te perguntei isto porque vi a forma como olhavas a tua amiga e havia tristeza no teu olhar.

- Desde quando é que ganhaste a capacidade de analisar os meus olhos? – Sara mostra-se surpreendida com a observação de Miguel, que ela teme que possa conter alguma verdade.

Ao ver a forma apaixonada como a amiga dança com o marido, sentiu-se invadir por uma tristeza que chega a envergonhá-la. De modo algum, inveja a felicidade da amiga, mas, subitamente, sentiu-se só e triste e, pelos vistos, Miguel percebeu, o que muito lamenta porque, com este trunfo, ele não vai largá-la.

- Oh meu doce, há anos que eu conheço esses olhos e a forma como eles dizem o que tu sentes. Sou bastante observador, quando te diz respeito.

- A mim e a mais umas quantas dúzias de mulheres – ironiza Sara.

- Tenho que me manter actualizado na arte da sedução para quando tu te decidires a dar-me uma hipótese. Não quero desiludir-te.

- Já te disse que não vale a pena dares-te a esse trabalho.

- Ainda vais morder essa língua desafiadora. Garanto-te. 

- Não achas que essa tua garantia já está fora de validade? Há anos que me dizes isso e, até agora, não me convenceste.

- Estás a desafiar-me?

- Talvez, quem sabe? – Sara adora estas provocações que faz a Miguel.

Ao longo dos anos de amizade, as provocações mútuas foram uma constante, tomando, por vezes, proporções que só podem ser explicadas pela química que os une e que Miguel faz questão de explorar, enquanto Sara se recusa a aceitá-la.

Miguel lança-lhe um olhar determinado que indica que, desta vez, Sara é um desafio a vencer e que lhe vai provar que a pode fazer mudar de ideias e engolir as suas próprias palavras.

- Ok, vou parar. Por hoje, já chega. Não te provoco mais, prometo.

Mais uma vez, Sara fica surpreendida com esta mudança de atitude, no entanto, algo lhe diz que não deve acreditar na boa vontade de Miguel. Ela também o conhece há muito tempo e conhece as suas artimanhas.

- Tens a certeza que estás bem? Estou preocupada contigo.

- Tenho, não te preocupes, meu doce – Miguel ri e espera conseguir levá-la a acreditar nele.

- Ok, vou fingir que acredito em ti – diz Sara a sorrir. 

Miguel pega no copo que Sara tem na mão, pousa-o no balcão do bar e a seguir pega-lhe na mão, arrastando-a consigo.

- Anda daí, vamos dançar – pela forma como a arrasta, não permite a Sara recusar.

- Miguel...

- Vá, anda lá. Quero que te divirtas e eu também me quero divertir, por isso, porque não fazê-lo juntos. Prometo manter as mãos sossegadas.

- Eu sabia que serias incapaz de parar com as provocações – Sara desata a rir, como se se sentisse aliviada da sua preocupação quanto ao estado de Miguel.

- Estou só a sossegar-te, não te estou a provocar. Só quero que saibas quais são as minhas intenções.

- É isso mesmo que me preocupa. Eu sei quais são as tuas intenções.

- Ai que essa magoou-me. Estou a portar-me bem e tu não acreditas em mim – diz Miguel no seu habitual tom divertido e descontraído.

Chegados à pista, Miguel agarra-a pela cintura, não a encostando completamente a si para não a pressionar e, Sara não tem outra alternativa a não ser colocar os seus braços em volta do pescoço de Miguel. Seria isso ou pousá-los naquele peito bem musculado que ela conhece bem e, o efeito que lhe poderia provocar, é algo que ela quer evitar.

Neste instante, Miguel dá-lhe um beijo na face, aí deixando os lábios permanecerem mais tempo do que é habitual. Sara sente-se corar e um arrepio percorre-lhe a espinha.

- Ainda não te disse que estás lindíssima, mas a verdade é que estás lindíssima.

- Obrigada – agradece Sara, sentindo-se tímida subitamente.

- E ficas ainda mais linda quando coras. É uma imagem linda de se ver.

- Miguel, pára – pede Sara, com alguma dificuldade em articular as palavras. – Só estou com calor, mais nada – a verdade é que a proximidade entre eles, está a fazer aumentar a temperatura e a toldar-lhe o raciocínio.

Sentindo o efeito que está a ter nela, Miguel, adepto de dar um passo atrás para dar dois em frente, muda novamente de táctica.

- Olha, tenho um convite para te fazer e, antes que fiques com ideias, é um convite profissional.

- O que é? – Sara ficou curiosa e olha-o à espera do que vem a seguir.

- Nos dias vinte e sete e vinte e oito deste mês, vai haver um congresso no Porto, relacionado com a nossa área de gestão financeira e eu quero ir. Como não quero ir sozinho, lembrei-me que seria óptimo se fôssemos os dois.

- Humm, não sei – Sara hesita.

- Pensa nisso e, até ao fim-de-semana, dás-me uma resposta. Eu mando-te o programa e tenho a certeza que vais achar interessante e vais aceitar.

- Ok, manda-me isso, eu vou pensar e depois dou-te uma resposta.

- Combinado. Entretanto, Miguel aproveita o resto da noite para dançar com Sara, fazê-la divertir-se e, ao mesmo tempo, provocá-la com os seus avanços sensuais.

Durante este tempo, Sara diverte-se e os sentimentos de tristeza e solidão que a atormentaram antes, são afastados pela presença de Miguel.

Ao pé dele é difícil haver tristeza.

Normalmente, Miguel é um homem divertido e bem-disposto e, perto dele é difícil não nos divertirmos. A sua boa disposição e o humor são contagiantes e facilmente envolvem quem o rodeia. Sara não é excepção e assim,

diverte-se e saboreia a forma como ele lhe dedica a sua atenção.

Esta noite, Sara aproveita esta atenção que a faz sentir-se cuidada e acarinhada. Sem dúvida, sente-se carente e, Miguel é o homem perfeito para, durante umas horas e sabendo que ela não avançará mais, a animar e fazer esquecer

essa carência.

Quando a noite, por fim, termina e todos os convidados já se foram embora, Sara, Cristina, Beatriz e Rita estão reunidas a fazer o balanço da noite e, qualquer uma delas, espelha a felicidade no rosto, graças ao sucesso da noite.

Um pouco afastados delas, estão Miguel, João e Filipe que as observam e comentam os acontecimentos da noite.

- Então, achas que a Rita gostou da surpresa? – questiona Filipe.

- Acho que sim. Agora vamos ver se ela não me vai pôr a dormir no sofá da sala, por eu lhe ter escondido e decidido tudo isto – brinca João.

- Não o fizeste sozinho. Todos participámos – continua Filipe.

- Pois, mas sou eu que durmo com ela. Nenhum de vocês, ou das miúdas, corre o risco de ser expulso da cama dela – e João ri.

- Sim, estas mulheres são imprevisíveis – confirma Filipe.

- Está tudo bem contigo, Miguel? Estás muito calado – João observa-o.

- Sim, está tudo bem.

- O Miguel está com pena por a festa ter terminado. Agora não tem pretexto para continuar com as mãos em cima da Sara – diz Filipe, recebendo uma careta de Miguel.

– Sim, eu bem vi que não a largaste a noite toda. Nem sei como é que ela não te deu uma tampa.

- Também reparei – comenta João – e a Rita percebeu e comentou como a Sara parecia feliz, esta noite, contigo.

- Talvez ela tenha percebido que eu sou o homem perfeito para ela – dispara Miguel no seu tom divertido e confiante.

- Depois de tantas negas que ela te deu? Será que ela está a perder o juízo? – Filipe não resiste a picá-lo.

- Olha que, entre ela e a Cristina, não sei se sou eu que estou a ganhar em termos de negas, ou tu – Miguel responde à altura.

- Eu e a Cristina somos só amigos – defende-se Filipe.

- Eu e a Sara também, mas, ao contrário de ti, eu nunca escondi que quero ser muito mais do que isso e vais ver como vou conseguir.

- Como fico feliz por estar fora dessas vossas picardias – João está divertido com a conversa dos amigos, mas, como homem casado com o amor da sua vida, está feliz por já ter conseguido conquistar o coração da sua esposa, ao contrário dos amigos que ainda têm um longo caminho para percorrer.

- Vou ser muito sincero contigo, meu amigo – diz Miguel – não imaginas como te invejo, mas garanto-te que lhe vou dar a volta e a Sara vai acabar por deixar de me rejeitar. Quando ela der conta, não vai poder viver sem mim,

vais ver.

- Ui, ele entrou num desafio! Já tenho pena da Sara porque ela não faz ideia do que a espera – ironiza Filipe.

- Podes ter a certeza – confirma Miguel.

- Miguel, tem cuidado com ela. Tanto quanto sei, a última relação dela não foi fácil e não me parece que ela esteja pronta para aventuras. Sabes bem como ela ficou, por isso, cuidado. Vê lá o que fazes – adverte-o João.

- Não te preocupes. Não precisas de te armar em irmão mais velho da Sara ou de qualquer uma delas. Eu sei que aquelas quatro mulheres, são mulheres especiais e eu nunca farei nada que as desrespeite ou magoe, até porque sei que

te teria à perna e não me apetece aturar-te. 

Todos riem, mas em todos está presente o sentimento de protecção e respeito para com aquele grupo de mulheres que respeitam, protegem e de quem gostam muito, seja de que forma for.

Na hora de ir embora, João e Rita seguem para a sua casa em Cascais, Filipe vai para Oeiras e os restantes têm uma curta viagem até ao Parque das Nações, em Lisboa.

Miguel oferece boleia às amigas Sara, Beatriz e Cristina que vivem perto da sua casa, mas elas vieram todas no carro de Sara e é com ela que irão.

Durante o caminho até casa, Beatriz e Cristina não perdem a oportunidade de tentar perceber o que aconteceu esta noite, entre Sara e Miguel, que passaram todo o tempo juntos e, aparentemente, muito bem-dispostos.

- Então conta-nos lá, como foi a tua noite? – começa Cristina.

- Hã?! – Sara lança-lhe um olhar rápido, voltando a sua atenção de novo para a estrada. – O que queres dizer com isso?

- Não sei, todos vimos que tu e o Miguel não se largaram a noite toda.

- Ah ok, já percebi. Estão todos a fazer filmes, mas é melhor nem começarem. Estávamos os dois sem acompanhantes e estivemos, simplesmente, a divertirmo-nos, mais nada. Não inventem.

- Pois olha que parecia muito mais do que isso – provoca Beatriz.

- Mas garanto-vos que não era – Sara começa a ficar irritada.

- Ok, se tu dizes, nós acreditamos – termina Cristina.

- Olha quem fala. Então e o Filipe, hoje esteve sossegado? – Sara riposta para Cristina, por quem Filipe sempre mostrou um carinho muito especial.

- Não desvies a conversa para mim. O Filipe esteve comigo e com a Bea e não aconteceu nada, nem uma insinuação.

- Sim, eu sou testemunha – confirma Beatriz.

- Olhem lá, vocês combinaram vir o caminho a atazanarem-me a cabeça? – pergunta Sara.

- Nem pensar – respondem em uníssono.

- Então é melhor pararem, senão paro o carro e deixo-vos, para fazerem o resto do caminho a pé – ameaça Sara, divertida.

- Não eras capaz de nos fazer isso – diz Cristina.

- Tens a certeza?

- Ok, não vou testar. Deixa-me em casa, por favor, amanhã tenho consultas, bem cedo, preciso de dormir.

- Linda menina – Sara sente-se vitoriosa.

- E eu preciso de estar cedo na MOVE, por isso, da minha boca não ouvirás mais nada – é a vez de Beatriz.

- Lindas meninas, é isso mesmo.

Quando Cristina e Beatriz saem do carro, à porta do prédio onde ambas vivem, não resistem a provocar Sara.

- Até amanhã Sara e, para que fique registado, a partir de agora, deixas de nos dar boleia para casa. Passamos a levar os nossos carros. Não és uma motorista de confiança – e Cristina ri.

- Podes crer, concordo contigo – continua Beatriz.

- Que engraçadinhas que vocês são. Até amanhã e durmam bem.

- Até amanhã e bons sonhos. Sara, adoramos-te!

- Eu também, diabinhas.

Cristina e Beatriz sobem no elevador e, por alguns minutos, Beatriz vai a casa de Cristina para descontraírem um pouco e falarem sobre tudo o que aconteceu esta noite. Depois dessa conversa, Beatriz segue para a sua casa, ao

lado da de Cristina e, por fim, as duas podem descansar.

Sara segue até ao seu apartamento, dois quarteirões a seguir ao prédio onde as amigas vivem, estaciona no seu lugar de garagem, sobe e, mal a porta se fecha nas suas costas, a solidão daquela casa volta a invadi-la.

Disposta a não se deixar vencer pelo sentimento, mais uma vez, esta noite, resolve preencher a sua mente com as recordações e imagens dos diversos momentos vividos nas últimas horas. O desfile, a revelação da identidade

da criadora da MOVE, a festa, os convidados, Miguel... pois, Miguel é quem mais preenche a sua mente. As suas brincadeiras, as suas provocações, tudo isso contribuiu para que tenha sido uma noite bem divertida. Por outro lado, a forma como a tocou durante cada dança, a ternura e o carinho, dissimulados, mas que ela não deixou de sentir e, o charme e a sensualidade que lhe ofereceu naquela noite, perturbam-na e ameaçam a sua determinação em manter-se afastada dele.

Durante aquelas horas, sentiu-se acarinhada, respeitada, protegida.

Não será exagero se disser que se chegou a sentir venerada e a verdade é que foi maravilhoso. Ela não pode negar que ele é um sedutor que passou a noite a seduzi-la, ainda que, com o seu ar divertido, mas que ela adorou. Maldito Miguel, está a baralhá-la e ele sabe o efeito que tem nela.

Com estes pensamentos, acaba por adormecer, aconchegada na cama e sentindo, ao fim de muitos meses, uma paz de espírito e o seu coração apaziguado.