Reencontro
com o Amor

Capítulo 4

Reencontro com o Amor_volume 1 frente


Na manhã seguinte, quando Beatriz se prepara para sair, encontra Rita na cozinha, com ar de quem mal dormiu.

– Então, o que se passa, não conseguiste dormir? – pergunta Beatriz.

– Digamos que não dormi muito bem e então resolvi levantar-me para preparar qualquer coisa para comeres, antes de saíres, e para te dar um beijo de despedida.

– Há algum problema?

– Não, nada – responde Rita com um ar enigmático.

– Porque será que não me estás a convencer? Acho que estás... não sei... estranha?!

– Estranha? – ri-se Rita com esta observação.

– Sim, estranha. Mas é uma estranha “boa”.

– És mesmo uma boa amiga e que me conhece muito bem. Vou contar-te. Vou tomar o pequeno-almoço com o

João.

– Vais? A sério? Conta, quero saber tudo.

– Não há muito a contar. Recebi um email dele, ontem, a convidar-me para tomar um café e, quando lhe respondi, pelos vistos, ele ainda estava a trabalhar, de modo que, acabámos por combinar encontrarmo-nos em Sintra, hoje às

nove horas, para tomar o pequeno-almoço e, depois logo se verá. – Rita sente a face a aquecer.

– Rita, que bom! Vai ser bom para ti, passares o dia com gente, em vez de estares sozinha e fechada no teu mundo. Espero que te divirtas e que aproveites muito.

– Não comeces...

– Rita, vais estar com o João, que é um amigo de longa data e que, aconteça o que acontecer, será sempre um amigo, por isso, aproveita e baixa um pouco as tuas defesas.

Precisas de viver e de sentir e o João, tenho a certeza, que nunca te quererá magoar. Lembra-te disso, minha amiga.

– Eu sei que tens razão. Vou tentar divertir-me mas será só um café e conversa com um amigo. Qualquer das formas, obrigada pelas tuas palavras. Sei que te preocupas, mas não vale a pena Beatriz, eu estou bem, a sério que estou.

– Ok, vou acreditar em ti. Queres que te deixe em Sintra?

– Não, vou com o meu carro.

– Bem, então nesse caso, acho que vou andando.

Depois falamos. Quero saber tudo – diz Beatriz enquanto se despede de Rita com um beijo e um piscar de olho.

– Vai com cuidado e depois falamos, mas não sei se te vou contar tudo – brinca Rita – entretanto, pensa no fim-de-semana.

– Vou ver a agenda, mas se a tua se alterar por algum motivo especial, não te preocupes, marcamos noutra altura.

– Não sejas parva – ri-se Rita. – Vá, vai-te embora senão apanhas trânsito.

Rita sente-se como uma adolescente no seu primeiro encontro, sem saber o que vestir e, à medida que a hora se aproxima, sente-se cada vez mais ansiosa. Por fim, resolve respirar fundo e diz a si própria que está a ser ridícula, por isso, acalma-se, veste-se, pega no carro e vai para Sintra, na esperança de chegar antes de João.

Quando Rita chega à Piriquita, a famosa pastelaria Sintrense, tão conhecida pelos seus maravilhosos travesseiros, espera ser a primeira, até porque ainda são só oito e quarenta e cinco, por isso, está adiantada quinze minutos em relação ao combinado, de modo a sentar-se e tentar adormecer as borboletas que sente no estômago. Entra e perscruta o local em busca de uma mesa vaga, até que, os seus olhos o vêem numa mesa ao canto, sentado, com um sorriso que lhe ilumina os olhos verdes que a olham e devoram com toda a intensidade.

Naquele momento, Rita sente que, as borboletas do seu estômago, alteraram o ritmo e agora dedicaram-se à “Zumba”, não havendo forma de as fazer parar.

Aproxima-se da mesa onde João se encontra e quando chega ao pé dele, João levanta-se, agarra-a por um cotovelo, num gesto demonstrativo de posse e dá-lhe um beijo terno na face que demora mais do que seria de esperar. Rita é atingida por um choque eléctrico que percorre todo o seu corpo, de uma forma, como nunca lhe tinha acontecido antes. A cor aflora às suas faces.

João sente também esse mesmo choque, que provoca nele um estremecimento, ao qual, não está habituado. Como bom observador que é, não lhe escapa que Rita também o sentiu e, a forma como a cor aflorou às suas faces, tal como,

a reacção dela a toda esta energia existente entre ambos. João sempre soube que Rita era especial, mas passados todos estes anos, e depois da sua experiência com tantas outras mulheres, nunca pensou ser possível, sentir o que sente, na sua presença. Rita é agora, uma mulher linda, que mexe profundamente com os seus sentimentos, deixando-os completamente em tumulto e, João tem a certeza que quer esta mulher e que tudo fará para a ter. Nem que tenha que virar o mundo do avesso, Rita vai ser sua. João é um homem determinado e, quando toma uma decisão, não há como escapar-lhe, ou não teria ele construído tudo o que construiu se assim não fosse. No entanto, João sente que há algo estranho em Rita, algo que ele não consegue entender, mas sente que há uma barreira à volta dela. Será um desafio, mas que ele está pronto a enfrentar e, qualquer que seja a barreira, ele vai derrubá-la.

– Bom dia, miúda, dormiste bem? – questiona João, examinando a reacção de Rita e as suas ligeiras sombras sob os olhos.

– Bom dia João. Sim, – mente Rita, que passou a noite inquieta, mas sem querer admitir a João o quanto as suas mensagens a deixaram ansiosa e sem conseguir dormir – e tu?

– Bom, digamos que o trabalho não me deixou muito tempo para dormir mas, qualquer das formas, nunca fui de dormir muito – o que não lhe disse é que, mesmo depois de chegar a casa, já sem trabalho, não conseguiu dormir a pensar neste pequeno-almoço, mas isso ele não irá admitir.

– Então e podes, hoje, não ir trabalhar?

– Sou o patrão de mim mesmo e, tendo em conta, tudo o que tenho trabalhado nos últimos tempos, posso dar-me ao luxo de tirar alguns dias para... o que me apetecer. Qualquer das formas, o Miguel e o Filipe estão por lá, se houver

alguma emergência. E tu? Disseste que estavas “mais ou menos” de férias?

– Sim, resolvi vir de vez para Portugal. Estou cansada de andar sempre com a casa às costas, pela Europa fora.

Afinal de contas, tenho vinte e quatro anos, está mais do que na altura de ter o meu espaço e decidi que, esse espaço, tem que ser aqui. Gostei de viajar, a maior parte do tempo, mas agora, quero regressar e ficar. Preciso de paz de espírito para decidir o que vou fazer daqui para a frente. 

João ouve-a com toda a atenção e percebe que algo a apoquenta, mas o que será? Não deixou de reparar quando Rita referiu “... a maior parte do tempo...”. O que terá acontecido nessa menor parte do tempo?

– Estás diferente!

– É normal, não? Passaram doze anos, cresci, amadureci – diz Rita com um sorriso, no qual, João detecta alguma tristeza, mas resolve não a comentar.

– Claro que é normal, só espero que nesse crescimento e amadurecimento não tenhas perdido o apetite – diz João para aligeirar a conversa.

– Não, continuo a comer desalmadamente – ri-se Rita.

– Então o que vamos comer?

João faz o pedido de um pequeno-almoço maravilhoso, que os delicia e, durante o qual, ambos desfrutam, tanto da comida, como da companhia e da conversa um do outro.

– Vamos levar uns travesseiros para apreciar mais logo, onde quer que estejamos – diz João.

– Estavas mesmo a falar a sério quando disseste que não ias trabalhar hoje? – pergunta Rita com um ar divertido.

– Claro que estava, – responde João a fingir-se ofendido – eu não brinco com coisas sérias. Hoje, estou por tua conta, todo por tua conta – diz João, olhando-a bem fundo nos olhos.

Rita sorri, timidamente, e tenta disfarçar o rubor, mas em vão, para o olhar de João, a quem não escapa nenhum pormenor.

– Ok, já percebi. Então o que vamos fazer agora?

– Sugestões não faltariam, – diz João com um sorriso matreiro – mas vou deixar que sejas tu a escolher.

– Vamos passear para a praia?

– Vamos. Vamos no meu carro. Onde deixaste o teu?

– Está estacionado numa rua aqui perto.

– Então fica onde está e, no regresso, vais buscá-lo.

Anda – agarra-a pela mão e passeiam-se assim até ao carro de João.

Chegados ao carro, um Volvo XC60, cinza prata, João abre-lhe a porta do passageiro, para que ela entre e, contornando-o, instala-se no lugar do condutor.

– Um Volvo? Conduzido por um cavalheiro? – pica-o Rita.

– Porque dizes isso?

– Não sei, mas como executivo e ainda por cima jovem, achei que preferias carros mais desportivos e mais vistosos. Pelo menos, é o que habitualmente a classe em que

te inseres, prefere – explica Rita. – E o abrir da porta a uma mulher, também já não é muito comum.

– Em primeiro lugar, não gosto de dar nas vistas e, como irás perceber, de comum, tenho muito pouco. Igualmente importante para mim, é a segurança, tanto a minha como a dos que me acompanham e, o Volvo é dos carros mais seguros que existem, logo, é a minha escolha.

– Desculpa, não queria insinuar nada ou rotular-te de alguma coisa. Estava só a brincar contigo.

– Não tens que pedir desculpa, mas com o tempo, vais perceber que sou muito diferente da maioria dos homens da minha idade e posição, nas mais diversas facetas.

Ao dizer estas palavras, João tem um certo ar enigmático que intriga Rita e, aproximando-se dela, dá-lhe um ligeiro beijo nos lábios. Rita fica surpreendida e baixa o olhar como se, dessa forma, pudesse esconder os seus

sentimentos.

– Rita, olha para mim – ordena-lhe João, ao que, com alguma relutância, ela levanta os olhos e fita-o. – Não escondas os teus olhos, és linda! – e, mais uma vez, aproxima-se de Rita e os seus lábios tocam-se mas, agora, João aprofunda o beijo e, sem que Rita lhe ofereça resistência, a sua língua explora aquela boca mágica onde convida a língua dela para uma dança sensual, a que ambos se entregam, por largos momentos e que os deixa, a ambos, sem fôlego.

Quando terminam, João observa Rita, não lhe escapando o pormenor de que ela treme e diz-lhe:

– És mesmo linda! Desculpa se te assustei ou fui muito rápido, mas nunca desperdiço uma boa oportunidade.

– Não me assustaste, – sussurra Rita – apenas me surpreendeste. Não estava à espera – no entanto, o que sente é muito mais do que surpresa, é um turbilhão de sentimentos.

– Vamos, então? – questiona João.

– Vamos.

Durante um bom pedaço do caminho, seguem em silêncio, ambos envoltos nos seus pensamentos. Rita, fingindo desfrutar da paisagem que tem à sua frente, tenta dar ordem aos seus sentimentos e perceber o que aquele beijo significou para si. Ela tem fugido a sentir, o que quer que seja, e tem evitado envolver-se em relações sérias e, agora, chega João e põe tudo em causa.

– Um milhão pelos teus pensamentos, minha linda.

– Ah, estou só a apreciar a paisagem. O mar teve sempre um efeito calmante para mim – responde Rita.

– Mentes muito mal, mas vou fingir que acredito.

– A sério, é verdade. Sempre adorei o mar.

– Não duvido nada. Também adoro o mar.

– És muito inconsciente com a tua oferta, não sei como conseguiste ter sucesso no teu negócio. Só espero que não sejas assim com tudo.

– Não sou assim com tudo, só faço ofertas em relação ao que tenho a certeza que vale o que ofereço e, em relação a ti, a oferta poderia, deveria e valeria muito mais.

– És louco, sabes? – diz Rita a sorrir.

– Sei, mas desde que te reencontrei, estou cada vez mais louco.

– Pára com isso, João – Rita ri-se e recebe um piscar de olho.