Reencontro
com o Amor
Capítulo 3
Nos dias seguintes, aparentemente, tudo volta à normalidade. Cada um, volta ao seu dia-a-dia, ocupado com as suas actividades.
Beatriz e Sara têm a MOVE para gerir, com os desfiles da próxima estação a preparar e com toda a gestão da empresa, que tem um sucesso cada vez maior.
A festa foi muito falada na imprensa, o que não deixa de ser uma grande publicidade para a MOVE pois, as quatro amigas, fizeram questão de usar e mostrar tudo, o que de melhor, por lá se faz.
Cristina, continua na sua vida, de tentar ajudar os outros, na procura de soluções para os problemas que os apoquentam, através da qual, se vê frequentemente recompensada.
Já Rita, resolveu regressar a casa no dia seguinte à festa. Desde que regressou a Portugal, decidiu instalar-se na casa que a família tem, perto de Colares, e desfrutar de Sintra e das praias das redondezas, onde passou tantas férias na sua infância.
De manhã, acorda normalmente cedo, equipa-se e vai fazer o seu exercício matinal que, embora, às vezes, o faça com algum sacrifício, é sempre bom para a ajudar a pensar. Andar ou correr até à praia e chegar lá e poder apreciar a
imensidão daquele mar, é sempre algo que a reconforta.
No resto do dia, vai ocupando o tempo com a leitura, o que é capaz de fazer um dia inteiro, sem dar pelas horas a passarem ou se lembrar de comer. A leitura é uma das paixões da sua vida. Traz-lhe paz de espírito e deixa-a com
a mente livre para viajar ou viver os mais diversos sentimentos das personagens. Nos livros, pode ser a heroína, a donzela em apuros ou até a vilã. Pode ser o que ela quiser e, nada nem ninguém, a impedem ou obrigam, a fazer ou a ser,
o que quer que seja.
Outra das suas paixões é o desenho, o que lhe ocupa também muito do seu tempo e lhe dá a tão desejada paz de espírito que tanto anseia.
Tanto Rita, como as amigas, mantêm-se em contacto durante estes dias e, apesar dos esforços das amigas, para que vá para Lisboa pois, aí é mais fácil encontrarem-se, ela recusa e diz que está bem onde está. Neste momento,
precisa da calma e tranquilidade daquele local, rodeada pela natureza e, não do bulício de Lisboa. Já teve agitação que chegue nos últimos tempos, agora, decidiu que, por algum tempo, permanecerá ali a fazer o que lhe dá prazer. Ali, pode desfrutar, no fim do dia, do pôr-do-sol, que não é comparável a estar em Lisboa. Não, agora é ali que quer e vai ficar.
João, Filipe e Miguel regressam também ao mundo dos negócios, com novas tecnologias a desenvolver e a dar a conhecer ao mundo, para que, delas, façam bom uso.
Tudo decorre dentro da normalidade, à excepção de João, que parece agitado.
Os amigos sabem que ele se encontra numa fase crucial, relativamente a um novo software que está a desenvolver, o que, regra geral, o deixa sempre alterado, mas desta vez, é diferente. João está com sérias dificuldades em
que o processo avance, atribuindo isso ao facto de, nesta fase, a expectativa pelo desfecho ser grande, o que aumenta a pressão e, em consequência, o stress que não o deixa descansar, prejudicando a sua concentração.
Sempre foi assim nesta fase dos projectos mas, desta vez, há algo mais, que o incomoda. Por mais que tente concentrar-se, algo ocupa o seu pensamento, Rita. Rita está tão perto e ele anseia por um novo encontro, mas no entanto,
não quer mostrar a sua ansiedade, pelo que, passa os dias a tentar ocupar-se com o seu projecto. Afinal, sempre foi um homem ponderado e que, mesmo quando desejava muito algo, soube esperar pelo momento apropriado sem, com isso, descurar as suas responsabilidades.
Na quarta-feira, como é habitual, há reunião entre João, Miguel e Filipe, a fim de avaliarem os vários assuntos que cada um tem em mãos. Embora, cada um seja responsável pela sua área, é importante que todos se mantenham a par de tudo o que se passa na empresa, por isso, sempre fizeram questão destas reuniões semanais.
Tanto Miguel como Filipe, vão relatando as diversas reuniões, os acordos, as conversas que foram tendo e João limita-se a assentir mas, para os amigos que o conhecem bem, ele está distante e distraído, o que não é, de todo, típico dele.
– João, passa-se alguma coisa? – pergunta, por fim, Miguel.
– Hã..., não, nada. Porque perguntas?
– Não sei, pareces distante. Eu e o Filipe temos estado para aqui a falar e tu não comentas nada. Limitas-te, quanto muito, a ouvir e até isso já pus em causa.
– Não se passa nada. Quer dizer, sabem que estou naquela fase do projecto em que, por norma, é complicado avançar mas, fora isso, está tudo bem.
– Tens a certeza? A semana passada já estavas nessa fase e, no entanto, não estavas assim – intervém Filipe.
– Assim como? Será que me podem explicar? – exalta- se João.
– Calma João, – tenta Miguel acalmá-lo – nós sabemos que, por norma, nesta fase, as coisas são sempre mais complicadas para ti, mas desde segunda-feira que te achamos demasiado agitado. Tens descansado?
– Desculpem, acho que ando realmente ansioso e não tenho dormido muito bem, o que está a levar-me ao limite, mas daqui a uns dias já passa. Não se preocupem.
– Claro que nos preocupamos. Tens chegado muito cedo e saído muito tarde, ás vezes pergunto-me se chegas a sair daqui, mas visto que não te imagino a ter um guarda-roupa no escritório, calculo que vais a casa, pelo menos,
tomar um banho – explica Filipe.
– Bom... digamos que não estás muito longe da verdade – diz João e esboça um ligeiro sorriso, encolhendo os ombros em jeito de desculpa.
– Sabes que, provavelmente, o melhor seria fazeres uma pausa – aconselha Miguel.
– Não sei, estou preocupado com o prazo. Sabes como odeio deixar tudo para o fim. Há sempre qualquer coisa que complica tudo no fim do prazo e depois não há tempo para revisões.
– Sim, tens razão, mas ainda ontem estivemos a rever as datas combinadas com o cliente e ainda tens uma folga considerável que te permite uma pausa de alguns dias – informa Filipe. – Por enquanto, estás longe de não vir a
cumprir o prazo.
– Ok, obrigado pelo vosso apoio e, se decidir pela pausa, logo vos informo.
Entretanto, Rita vai levando os seus dias, mas esta semana, algo não sai do seu pensamento. O beijo. Aquele beijo revolveu o seu íntimo e tem sido difícil concentrar-se na leitura ou no desenho. O que, até aqui, a transportava para outros mundos, agora, só ocupa uma parte do seu cérebro que, frequentemente, dá por si a recordar o toque daqueles lábios, o calor que passaram aos seus e o arrepio provocado em todo o seu corpo.
Na quarta-feira, Beatriz decide passar a tarde com Rita e jantam juntas no restaurante com vista sobre o mar, que Rita tanto aprecia, e onde passa muitas tardes a ler ou até a desenhar, na esplanada que, por esta altura, é ainda
pouco frequentada, o que lhe permite desfrutar da vista do mar com toda a calma e privacidade.
Durante a tarde, enquanto caminham juntas pela praia, com toda a calma, desfrutando da temperatura agradável e da brisa amena, Beatriz, que tem vindo a examinar a amiga, pergunta-lhe:
– Então e como tem sido a tua semana?
– O costume..., nada de especial – responde Rita.
– A tua famosa resposta, “Nada de especial” – troça Beatriz.
– É verdade. Tenho feito as minhas caminhadas, tenho vindo à praia...
– Isso vê-se bem, – interrompe Beatriz – estás mais morena e com uma cor de fazer inveja.
– O tempo está bom para passeios. Depois, tenho lido e fiz alguns desenhos. Depois mostro-tos. E pronto, tem sido isso.
– E tens falado com alguém?
Rita baixa-se para apanhar uma concha, o que lhe dá tempo para avaliar a pergunta de Beatriz.
– Sim, para além de ti, falei com a Sara no Domingo e ontem falei com a Cristina. Perguntei-lhes se não querem vir cá passar o fim-de-semana, havia de ser giro, as quatro juntas.
– Humm...
– E os meus pais ligaram para saber se estava tudo bem e comentaram as nossas fotos da festa. Também as viram e acham que estávamos todas muito bem. “Umas brasas”, segundo a minha mãe.
Ao ouvir isto, ambas riem e continuam o passeio descontraídas.
Jantam, as duas, rodeadas pela luz do pôr-do-sol e pelo barulho suave do mar. Depois de apreciarem um bom peixe grelhado, regressam a casa, desfrutando de um serão calmo até que Beatriz diz que tem que ir dormir pois, na manhã
seguinte, terá que se levantar cedo e regressar a Lisboa.
– Foi bom, teres vindo. Tens que fazer isto, mais vezes.
– Sem dúvida, sinto-me como nova. Fez-me bem o mar.
– Então vai descansar e pensa no fim-de-semana. Iria adorar ter-vos cá.
– Não sei, deixa-me ver a agenda, combinar com as miúdas e logo te dizemos alguma coisa.
– Ok, fico à espera.
Beatriz e Rita despedem-se pois, decerto, Rita não estará levantada quando Beatriz sair, bem cedo.
Ao chegar ao quarto, Rita não tem sono, pelo que, resolve ligar o computador e ir verificar o email, coisa que não faz, já há alguns dias.
A caixa de correio está repleta de mensagens, como é habitual, e Rita começa a vê-las, como é seu costume, das mais antigas para as mais recentes. A maioria são as habituais mensagens de publicidade, promoções, inquéritos, facturas electrónicas, até que, a certa altura, o seu coração dispara, ao ver uma das mensagens recebidas nessa mesma noite.
De:João Santos
Para:Rita Saraiva
Assunto: Café?
Data: 15 de Maio de 2013 22:35
Olá miúda, como estás?
Estou para aqui a tentar trabalhar e lembrei-me que, o que seria mesmo agradável, seria estar a tomar café contigo e a conversar.
Quando estiveres disponível e se quiseres a companhia de um velho amigo, diz-me.
Beijo
João
De:Rita Saraiva
Para:João Santos
Assunto: Café
Data: 15 de Maio de 2013 23:09
Olá, estou bem e tu?
Ainda são horas de trabalho? Se calhar não consegues concentrar-te porque estás cansado. Talvez precises de descansar em vez de estares a pensar em café.
Quanto a tomarmos um café juntos, pode ser quando tu quiseres pois, quanto a disponibilidade, estou, mais ou menos, de férias.
Beijo
Rita
De:João Santos
Para:Rita Saraiva
Assunto: Café já?
Data: 15 de Maio de 2013 23:12
Pode ser já?
Garanto-te que o motivo da minha falta de concentração não é o cansaço, é mais uma morena linda que me tem atormentado e o café é só uma desculpa para matar saudades tuas.
Beijo
João
De:Rita Saraiva
Para:João Santos
Assunto: Amanhã?
Data: 15 de Maio de 2013 23:18
Não me parece que o café seja bom para qualquer um de nós a esta hora. Que tal amanhã? Parece-te bem?
Rita
De:João Santos
Para:Rita Saraiva
Assunto: Amanhã
Data: 15 de Maio de 2013 23:20
Amanhã será uma excelente ideia. Podemos tomar o pequeno-almoço juntos e passar o resto do dia. Vamos tomando “café” ao longo do dia, que dizes?
João
De:Rita Saraiva
Para:João Santos
Assunto: Amanhã
Data: 15 de Maio de 2013 23:25
Mas tu não trabalhas? Estás de férias ou vais, pura e simplesmente, fazer gazeta?
Rita
De:João Santos
Para:Rita Saraiva
Assunto: Não te preocupes
Data: 15 de Maio de 2013 23:27
Não te preocupes, posso perfeitamente fazer gazeta, bastando ligar a algumas pessoas.
Quanto ao nosso pequeno-almoço, preciso de saber onde estás, para te ir buscar de manhã. Dá-me a morada e a hora e aí estarei.
João
De:Rita Saraiva
Para:João Santos
Assunto: Morada
Data: 15 de Maio de 2013 23:30
Não precisas de me vir buscar. Vou com o meu carro e encontramo-nos em Sintra às 9h. Pode ser?
Rita
De:João Santos
Para:Rita Saraiva
Assunto: Sintra
Data: 15 de Maio de 2013 23:32
Preferia ir buscar-te mas, se insistes, encontramo-nos
em Sintra às 9h.
Agora será melhor ires descansar, minha linda.
Bons sonhos...
Beijo
João
De:Rita Saraiva
Para:João Santos
Assunto: Sonhos
Data: 15 de Maio de 2013 23:35
Por falar em dormir, parece-me que não sou a única a precisar.
Bons sonhos para ti também.
Rita
Após a troca de mensagens, não será fácil, tanto para Rita, como para João, conseguirem conciliar o sono.
Rita fica uns longos minutos a rever os emails trocados entre ambos e, dá por si a sorrir, perante a frontalidade de João – “Garanto-te que o motivo da minha falta de concentração não é o cansaço, é mais uma morena linda que me tem atormentado...”
– Que sedutor me saíste, João e, pelos vistos, muito directo também – diz Rita em voz alta para si mesma. – É bom manter a minha cabeça bem no sítio, quando estiveres por perto.
Por seu lado, João está eufórico. A noite vai ser longa e não lhe parece que vá conseguir pregar olho. João está ansioso por rever Rita e saber tudo sobre ela. Há muito tempo que nenhuma outra mulher mexia com ele, da forma
como Rita está a fazer, no entanto, habituado como está, a lidar e a observar todos os que o rodeiam, não pôde deixar de notar a forma como ela se refugia das suas investidas.
João não deixou escapar que Rita se fecha a cada tentativa de aproximação, de quem quer que o tente. Apenas às suas amigas é permitido.
– Rita, Rita, garanto-te que te vou conquistar e que vou conseguir entrar nesse teu casulo, em que te isolas, para descobrir o que assombra esses olhos lindos, juro-te –sussurra João, enquanto relembra aqueles olhos que sempre
o encantaram.